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Oito livros contra a crença no capitalismo eterno

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Por que a Economia do Conhecimento dispensa, em boa medida, o capital. Como surgem redes, moedas e bancos alternativos. A resposta brutal (mas possivelmente ineficaz) do sistema. Oito leituras indispensáveis, com resenhas

Por Ladislau Dowbor, no seu site | Imagem: Jean Bailly

A economia deve servir para o bem-estar da sociedade e não o contrário. Este foi o critério para a seleção de oito leituras sobre os rumos da nossa sociedade que me pareceram particularmente úteis. Estudos escritos de forma clara que não apenas trazem um diagnóstico sobre os problemas, mas apontam rumos e nos orientam em meio ao caos das aceleradas transformações em curso. Dei prioridade à literatura internacional porque, em geral, ela é menos conhecida. Os livros são em inglês, hoje a língua franca científica, mas as resenhas que fiz são evidentemente em português, e constituem em si uma leitura útil. Aliás esses livros já deveriam estar no mercado traduzidos em português.

The sharing economy, de Arun Sundararajan [leia resenha], é uma das melhores e mais abrangentes análises sobre a economia do compartilhamento. Excelente para compreendermos as novas dinâmicas que estão transformando as nossas vidas, por exemplo, como funciona a “internet das coisas”, atividade comercial que aproveita a conectividade das pessoas e agentes econômicos a partir de uma imensa variedade de arquiteturas organizacionais.

No mesmo sentido, The zero marginal cost society, de Jeremy Rifkin [resenha], demonstra como as práticas econômicas e as macrotendências, os chamados megatrends, estão mudando neste começo de século. Essa pesquisa, bastante detalhada, permite inclusive a distinção de novos rumos frente a aceleradas transformações. Vejo Rifkin como herdeiro de Alvin Toffler que buscou delinear os grandes eixos de mudança, ainda em 1980; ou Manuel Castells, que descreveu de maneira ainda mais ambiciosa o surgimento da sociedade em rede.

Outro excelente trabalho que nos situa diante das mudanças no nosso tempo é Understandng knowledge as a commons, de Elinor Ostrom e Charlotte Hess [resenha]. Eles reúnem vários autores que partem da ideia do “commons”. Uma obra fundamental sobre a economia do conhecimento e da centralidade do conhecimento nos processos produtivos. Hoje, como ordem de grandeza, mais da metade do valor incorporado nos produtos não consiste em mão de obra física ou matéria prima e capital fixo e sim no conhecimento incorporado.

Essas e outras mudanças permitem uma visão mais ampla de transformação da sociedade. É justamente o que faz Wolfgang Streeck em Buying time [resenha] ao defender – e estou de acordo com ele – que não estamos vivendo o fim do sistema capitalista, mas o ocaso do capitalismo democrático. Para fundamentar essa ideia, ele explicita várias formas de coerção da democracia de Estados pelas corporações que têm gravíssimas consequências para a cidadania. Mostra, por exemplo, como o sistema financeiro vem obrigando cada vez mais os governos a prestarem contas para o “mercado”, à revelia da necessidade de suas populações. Qualquer semelhança com o golpe no Brasil não é coincidência.

O papel dos bancos, aliás, é central nesse processo, como mostra Ellen Brown em The public bank solution [resenha]. “O que é bom para Wall Street não é necessariamente bom para a economia”, afirma autora. A primeira parte do livro é um resgate do processo histórico, de Wall Street a Beijing, que ajuda a entender como se articulam as instituições criadas e os grandes grupos de interesses do sistema financeiro. O estudo, inclusive, fecha com propostas de uma nova teoria monetária, o que ajuda muito.

Igualmente na linha propositiva, uma excelente síntese pode ser encontrada no estudo organizado por Joseph Stiglitz – Rewriting the rules of the American economy [resenha] – que traz ampla agenda prática de desenvolvimento inclusivo. Uma agenda voltada para os problemas dos Estados Unidos, mas que cabe perfeitamente para a situação brasileira, já que se trata de fazer a economia voltar a servir a sociedade. Os economistas americanos estão acordando e construindo novos rumos.

O fato é que ninguém precisa inventar a roda. É o que mostra George Lakey em Viking Economics [resenha], em que analisa a economia de quatro países – Noruega, Suécia, Dinamarca e Islândia – mostrando como esses países construíram uma economia robusta, com paz social e pouca desigualdade. O segredo? As pessoas colaboram para viver melhor e isso significa, na prática, todos viverem melhor, inclusive os imigrantes. As soluções, claramente, nunca são apenas ou dominantemente econômicas. É preciso fazer a sociedade funcionar de forma integrada. E não se trata de “países diferentes”, e sim de países que adotaram conscientemente políticas diferentes, vencendo grandes resistências.

Por fim, não poderia deixar de recomendar o livro Kate Raworth (Doughnut Economics) [resenha], de grande contribuição para mudarmos a forma como pensamos a ciência econômica. Com simplicidade e clareza, Kate traz uma revisão de como vemos, analisamos e contabilizamos as atividades econômicas. Rompendo com a simplificação do crescimento a todo custo, reorganiza os objetivos que devemos perseguir. Em termos de revisão em profundidade da economia política, é um dos livros mais importantes que li. Sem descartar as teorias que herdamos, ela organiza a transição para o que devemos fazer. Aqui a economia volta a fazer sentido, e o não economista poderá até ver que o bom senso funciona.

Para facilitar a vida dos leitores, fiz resenhas, tipicamente de duas páginas, sobre cada um dos livros mencionados. E deixo bem claro que nenhum desses livros segue as regras da desgraça que chamamos de economês. Trata-se de gente séria que organiza os desafios e propõe respostas, de uma forma que qualquer pessoa com razoável formação geral possa ler com facilidade. Segue a lista abaixo com os respectivos links para as minhas resenhas:

https://outraspalavras.net/outrasmidias/capa-outras-midias/oito-livros-para-superar-a-crenca-no-capitalismo-eterno/

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