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A vida atrás das barricadas: Sobre a Luta por Autonomia no Curdistão do Norte
Categories: Autonomia, Resistência


No coração de uma região marcada por conflitos gigantescos, a resistência de Kobane, terceira cidade mais importante dos Curdos – o maior povo sem estado, localizado entre a Síria e a Turquia – reforça a esperança por uma sociedade não sectária e democrática no Oriente Médio e Ásia Central.

O seguinte artigo “Hendeklerin ardındaki yaşam” foi escrito por Ismael Eskin para Özgür Gündem e publicado em Rojava Report.

As portas de cada casa parmanecem abertas nas vizinhanças onde por dias o estado tentou entrar com milhares de soldados armados. Nestes espaços aonde as pessoas optaram por viver é impossível ver a presença do estado além de alguns carros blindados nas avenidas principais.

Uma ordem sem estado

Atrás das trincheiras de Cizîr (Cizre) existe uma vida estreitamente ligada àquelxs que pagaram um preço por isso. Há um entusiasmo muito grande e uma alegria que não esqueceu os sofrimentos do passado. Um povo que paga seu preço para saber se o estado continuará seus ataques colocaram sua determinação na frente e ao centro, dizendo “já pagamos, e se for necessário continuaremos pagando”. É fácil entender o significado da resistência Cizîr através da solidariedade atrás das barricadas. Atrás das barricadas e bloqueios prevalece uma “ordem sem estado.”

Memórias frescas…

É necessário dizer que as pessoas de Cizîr não demandaram um auto-governo de ninguém, porque constantemente foi dito que tomando esses passos práticos entrariam em um caminho sem volta. Os sofrimentos que o estado infligiu nas pessoas de Cizîr no passado permanecem como memórias frescas. A juventude que ficou de guarda dia e noite atrás de suas posições fortificando com sacos de terra são a grande garantia do auto-governo. Porque um pilar do auto-governo é a auto-defesa, que permite as pessoas que moram atrás dessas fortificações viver em paz.

Os filhxs dxs mortxs

Na mídia pró-governo que grita mentiras como “o PKK está formando um cantão no Cizîr” a questão de “quem são essxs jovens” permanece escondida. Entramos em qualquer casa como convidadxs. Depois de um bom chá perguntamos às pessoas que vivem ali as mesmas perguntas: “Quem é essa juventude?” Os mais velhos respondem: “essxs são os filhxs daquelxs mortxs nos anos 90. Todxs aquelxs cresceram nas ruas e agora estão fazendo com que saibam que elxs não querem ver suas próprias famílias entre os mortxs.”

Celebrações populares

É uma tarde de celebração na vizinhança de Nur, aonde por 9 dias forças especiais tentaram entrar usando armas pesadas. As pessoas estavam dançando halays ao redor de fogueiras. Mesmo que a vizinhança esteja cercada de unidades armadas a moral está alta. Os buracos nas cobertas penduradas como defesa de atiradores e os buracos de balas nas paredes das casas permanecem como evidências do tipo de resistência que ocorreu aqui.

Tenham cuidado crianças!

Mães que nos dizem como em vizinhanças em que moram centenas de moradores não ocorre nenhum incidente de roubo, assim como a permanência de monumentos indestrutíveis em frente de suas casas. Essas mães nunca falham em oferecer preces ou conselhos “cuidem-se” ao distribuir comida e água aos jovens. Crianças para as quais não se necessita compelir a explicar suas experiências ao longo de vários dias pois estão sorrindo e guardando seus brinquedos por perto. Três gêmeos chamados Baran, Helin e Esra estão brincando perto das barricadas próximas à sua casa.

“Não vamos mais a escola”

Baran tem 11 anos de idade e explica o assalto da polícia em sua vizinhança. Explicando como suas casas viviam constantemente na mira, ele nos conta que era “como se vivêssemos em guerra”. Quando lembramos Baran e sua irmã que a escola está recomeçando ele nos diz “não vamos mais a escola. No entanto se houverem escolas Curdas, iremos.” Na conversa íntima que acontece nas horas da tarde acompanhada de chá o tópico principal da conversa entre os que ficam de guarda na porta da casa é sobre como a opinião pública Turca permeneceu sem resposta as pesssoas que moram no bairro. Em conversas, não houve uma palavra sobre “paz” com os residentes de Cizîr, que agora têm uma luz para o mapa da rota que as pessoas do Curdistão podem seguir, estão resistindo ombro a ombro com aquelxs que selecionaram, e não com aqueles apontados pelo estado para o qual não estão mais respondendo.

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