/// . Baobá Voador .
Carta aberta do Povo Tupinambá de Olivença e Convite à Marcha

Diante do acirramento do confronto entre Tupinambás e produtores rurais, estado agrava ainda mais a situação com negligência quanto aos direitos dxs habitantes originárixs do brasil, o envio de tropas do exército para reprimí-lxs e mais uma adiação da demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença, território indígena originário.

tropas em ilhéus
marcha solidária tupinambá

Damos destaque à carta do povo Tupinambá de Olivença situado na Serra do Padeiro, Ilhéus, Bahia, que vêm novamente enfrentando conflitos com produtores rurais, tendo seu processo de demarcação de terra indígena parado e a força nacional enviada segundo um dispositivo intitulado GLO (Garantia da Lei e da Ordem) acionado pelo governador do estado, para a reintegração de posse de terras, dando início à ocupação militar de um território indígena já reconhecido pelo estado brasileiro. Há relatos de uma criança Tupinambá de 2 anos sequestrada por 5 dias[0], entre outras arbitrariedades, comprovando que o colonialismo continua mais vivo do que nunca tanto nos rincões quanto nas cidades brasileiras.

O conflito não é novo, é a segunda vez que tropas são enviadas à Ilhéus. O primeiro conflito aconteceu com a ocupação de 35 fazendas no ano passado por parte dos Tupinambás, justamente para pressionar o governo a efetivar a demarcação de seu território.

Segundo o site do ISA sobre o Povo Tupinambá de Olivença: ?O Estado retirou-lhes os direitos indígenas diferenciados a partir do fim do século 19, em função das visões restritivas que os órgãos oficiais tinham a respeito de quem era ou não indígena. Foi somente com a Constituição de 1988 que se criou abertura legislativa para que as solicitações dos Tupinambá de Olivença, e de outros povos, fossem ouvidas e pudessem ter respaldo. Em 2001, os Tupinambá de Olivença foram reconhecidos oficialmente como indígenas pela Funai. A primeira fase de demarcação do seu território concluiu-se em abril de 2009 com a publicação do resumo do relatório de identificação e delimitação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença.? [1]

Artigo da Carta Capital sobre os conflitos do ano passado revela que ¨o processo de demarcação da Terra Indígena (TI) Tupinambá de Olivença, que se estende por cerca de 47 mil hectares, abarcando porções dos municípios de Buerarema, Ilhéus e Una, teve início em 2004. Vivem na área cerca de 4,7 mil indígenas. Todas as contestações à demarcação foram indeferidas e não restam dúvidas sobre a tradicionalidade da ocupação indígena. Contudo, descumprindo os prazos estabelecidos legalmente, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ainda não assinou a portaria declaratória da TI, para que o processo então se encaminhe para as etapas finais, incluindo o pagamento das indenizações devidas aos ocupantes não indígenas e o reassentamento daqueles que têm perfil de cliente da reforma agrária. O governador Jacques Wagner, por sua vez, tem prestado declarações ecoando os argumentos da elite regional, que tenta convencer a opinião pública de que a demarcação provocará uma ¨tragédia¨ de grandes proporções.¨ [2]

Nos últimos dias a situação foi agravada com a acusação aos índios por parte dos latifundiários do assassinato do produtor rural Juracy dos Santos Santana, de 44 anos. O conflito entre produtores rurais e índios que se desenrola há alguns anos agravou-se ainda mais com o novo adiamento da demarcação de seu território, que também não se compromete com a indenização dos agricultores, acabando por colocar uns contra os outros. Segundo o site Correio24h, no dia seguinte à morte de Juracy, moradores de Buerarema fecharam a BR-101 e destruíram parte da mureta de uma ponte na rodovia. Houve confronto entre policiais militares e manifestantes, inclusive com uso de bombas de efeito moral. De madrugada, duas agências bancárias e um posto de combustível haviam sido depredados.[3] Novamente a força nacional foi acionada, sem previsão para a resolução pacífica do conflito.

Uma marcha foi convocada em solidariedade ao Povo Tupinambá de Olivença, a Marcha dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica “Em defensa das terras sagradas dos Tupinambá”, do 14 à 16 de março desde a Aldeia Tupinambá Serra de Padeiro, Buerarema, Bahia, Ilhéus, Brasil. A programação pode ser lida abaixo.

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CARTA ABERTA DO POVO TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA AO POVO BRASILEIRO

Nós Tupinambá de Olivença, esclarecemos ao Povo Brasileiro, que por estratégia dos que invadiram o território sagrado dos nossos antepassados, e que há muito vem usurpando nossa terra e espoliando nossas riquezas naturais, não permitem que nossa verdadeira história seja contada, omitindo nossa contribuição cultural, negando a nossa existência, nos chamando de ¨Falsos Índios¨ ou, ¨Supostos Índios¨ incitando-os contra nós, promovendo o Crime de Ódio, nos desqualificando e distorcendo o que verdadeiramente somos.

Somos anciões, mulheres, homens, jovens e crianças, muitos misturados biologicamente, filhos, netos bisnetos, tetranetos, etc., advindos do estupro, ou não, outros por união impostas ¨ lembramos que são vários séculos de contato¨ que talvez não satisfazemos aos vossos olhos, ou até mesmo o ego daqueles que estão acostumados com estereótipos, a identificar um povo pela cor da pele, cabelos, ou olhos. Nunca esquecemos nossas raízes, e sempre mantivemos a nossa memória alimentada por nossos anciões, que através da oralidade nos permite saber de onde viemos e quem somos. Fomos obrigados a viver no anonimato por décadas e décadas, roubaram nossas terras, mataram nossos parentes e poucos conseguiram se manter em pequenas áreas e muitos dos nossos vivem em periferias das grandes cidades, em condições de vulnerabilidade, mas não perdemos o respeito pela Mãe Natureza, e nem o sentimento da partilha, muito menos a vontade de viver com dignidade, assim como, retomar o que é nosso por Direito Originário e está escrito na CF/1988, que é preciso fazer garantir.

Os estudos antropológicos de reconhecimento do território feito por instituição do governo comprovam e sustentam o que para nós sempre nos pertenceu, não somos os invasores, ou grileiros, somos a herança de uma história de guerra que duram exatamente 513 anos.
O Governo Federal tem sido omisso as questões relacionadas aos Povos Indígenas, muitos políticos nos vêem como estorvo, afinal atrapalhamos os interesses dos que financiam campanhas eleitorais milionárias, e ainda aliciam o Povo, Juízes, etc., contra nós.

O ódio que muita gente tem para conosco, beira a irracionalidade, nem sabem por que expelem tanto veneno contra nós e nem se questionam pela atitude insana. Sabemos que a falta de informação tem promovido a ignorância, que por sua vez tem levado uma grande parte da sociedade brasileira a nos crucificar criminalizando-nos e discriminando-nos.

Estamos pedindo paz e suplicando ao mundo a garantia de nossas vidas, e que o governo demarque nossas terras, chega de violação dos nossos direitos, e ao Povo Brasileiro pedimos a cessação de hostilidades e que o sentimento de invasão (mentalidade colonialista) seja dizimado, expurgado dos vossos corações, por favor, acabem com essa Guerra contra nós Povos Indígenas, contra nós os Tupinambás. É vergonhoso ver o governo da Bahia, ser contra nós, suspeitamos que seja por conta do exercício do sufrágio pelos eleitores, afinal somos em menor número e muitos ainda não sabem votar e nem possuímos dinheiro para financiar campanhas eleitorais, nada mais justifica a parcialidade, contra fatos não há argumento, desde o processo dos Pataxós Hã Hã Hães, que a tendência tornou-se explícita.

NENHUM POVO RESISTIU A TANTAS ATROCIDADES?

NÓS COMUNIDADE TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA ESTAMOS PEDINDO SOCORRO!

fonte: http://www.indiosonline.net/carta-aberta-do-povo-tupinamba-de-olivenca-ao-povo-brasileiro/

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Convite para participar na Marcha dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica “Em defesa das terras sagradas dos Tupinambá”, do 14 à 16 de março em Aldeia Tupinambá Serra de Padeiro, Buerarema, Bahia, Ilhéus, Brasil.

Irmãos da Terra,

Muitos já sabem como está a situação das e nas Terras Sagradas Indígenas. A poucos dias recebemos a notícia de que a Aldeia Tupinambá Serra do Padeiro foi invadida por Policiais Federais e Força Nacional novamente (ou seja, a história se repete: Veja os vídeos > tupinambá / tupinambá 2).

O confronto foi intenso e cheio de arbitrariedades. Uma criança foi sequestrada e depois de mais de 5 dias longe de sua casa foi devolvida. Após visita da TEIA em solidariedade a nossos irmãos Tupinambá decidimos realizar uma Marcha em defesa da Terra Sagrada dos Tupinambás Serra do Padeiro.

As Terras Indígenas precisam ser respeitadas! Assim, nós da Teia Agroecológica dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica convidamos todos os grupos, povos e movimentos a Marchar conosco!

Pedimos a todos que quiserem ajudar a Marcha e Luta que auxiliem com divulgação e mobilização de grupos que queiram participar, doações de alimento, doações de valores, mesmo que “pequenos”, para auxiliar na realização desse ato de solidariedade com nosso Povo Tupinambá e criação de Unidade entre os povos. Também aceitamos apoio, mensagens, vibrações e orações para apoiar @s Guerreir@s que estão na Luta e também os que vão participar da Marcha.

Pedimos que os que participam de redes e ações em comunidades que estão vivendo conflitos articulem e mobilizem as lideranças, mesmo que de outros estados, para participar e colaborar nessa vivência de Unidade.

Abaixo segue orientações para a participação e mobilização de outros e Programação:

Informes importantes:

– Os grupos que irão participar da Marcha devem se organizar para chegar a São José, município depois de Buerarema- Bahia, até 11h. É importante que os grupos se estruturem com água e algum lanche que possam comer antes de marchar. Pois, devemos almoçar-jantar na Aldeia;
– São 2h30 de Marcha;
– Os coletivos devem se organizar em torno de transporte e arrecadação de alimentos;
– Todos devem levar barraca e colchão e Kit alimentação (prato, caneca, talher);
– Não é permitido na aldeia álcool e outras drogas (recomendação do Cacique Babau que os participantes respeitem isso);

Programação

Dia 14
Chegada a São José pela manhã e Marcha rumo a Aldeia
Montagem de acampamento
Noite: Contação da História da Luta dos Tupinambás

15 de março
Farinhada;
plantio de 2 hectares de cacau orgânico;
Plantio de sementes crioulas;
Noite: Construção de encaminhamentos para as lutas e a unidade.

16 de março
Ritual e Celebração; Retorno às 14h.

Qualquer dúvida entre em contato com o e-mail jornadadeagroecologiadabahia@gmail.com ou pelos telefones 73 8141 5528 (claro)/ 9133 4104 – tim/ 9819 0706 – vivo.

Somos Uno com o Universo, Somos Todos Tupinambá Serra do Padeiro!

fonte: http://www.pueblosencamino.org/index.php/asi-si/economias-alternativas-solidarias/709-marcha-de-apoio-aos-tupinambas-serra-do-padeiro-bahia

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Referências:

[0] http://campanhatupinamba.wordpress.com/author/danielaalarcon/

[1] Tupinambá de Olivença
http://pib.socioambiental.org/pt/povo/tupinamba

[2] O retorno à terra dos tupinambás
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-retorno-a-terra-dos-tupinambas-5708.html

[3] Presidente Dilma autoriza atuação do Exército no sul da Bahia
http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/presidente-dilma-autoriza-atuacao-do-exercito-no-sul-da-bahia/?cHash=43835b314503c22f3d4eb7bed412fd43

Imagem índios online http://www.indiosonline.net e http://www.pueblosencamino.org/

Mais notícias sobre o conflito:

O Exército Brasileiro em Território Tupinambá de Olivença
http://www.indiosonline.net/o-exercito-brasileiro-em-territorio-tupinamba-de-olivenca-o-uso-sistematico-do-terror-para-oprimir-ou-impor-a-vontade/

Latifundiários cometem crime e culpam indígenas
http://pco.org.br/movimento-popular/latifundiarios-cometem-crime-e-culpam-indigenas/aeea,b.html

Exército chega em Ilhéus para reprimir os índios
http://www.pco.org.br/movimento-popular/exercito-chega-em-ilheus-para-reprimir-os-indios/aeeb,o.html

O Exército Brasileiro em Território Tupinambá de Olivença ? O uso sistemático do terror para oprimir ou impor a vontade
http://www.indiosonline.net/o-exercito-brasileiro-em-territorio-tupinamba-de-olivenca-o-uso-sistematico-do-terror-para-oprimir-ou-impor-a-vontade/

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