Encontro de experiências em labs, práticas, metodologias e ativismo midiático em Medellin, Colômbia. O convite foi feito através de Alejo Duque, depois de um contato em uma navegada casual pela plataforma N-1 (à procura de um espaço para abrigar a nova plataforma colaborativa g2g, link de Fabianne Balvedi). O interesse foi instantâneo, tanto por ser uma experiência que há anos fazemos, tanto por aprofundar os laços com a América Latina. Aqui re-encontrei Ricardo Brazileiro e depois de tantos anos trabalhando em rede em projetos distintos e vivendo consideravelmente perto, nos vimos com a difícil missão de retratar o que foi colocado como O complexo Panorama Brasileiro “Não é o completo não né?”, abre Brazileiro a mesa. Juntou-se a nós Miguel Castro.
La chinga: contar em meia hora um panorama brasileiro de dez anos de ativismo, investigando processos, entendendo contextos. A imagem que nos ajudou nesse processo foi um mapeio prévio feito no ano de 2006 das redes em torno do ativismo, arte e cultura digital que recém-surgia http://publicacoes.midiatatica.info/cartografia.zip não-coincidentemente inspirada pela atual exposição do museu de arte moderna de medellin cartografias críticas.
Traçamos um trajeto por entre trabalhos como Metareciclagem, Encontros de Conhecimentos Livres, mimoSas, Pontos de Cultura, Submidialogias, e fizemos algumas reflexões, como por exemplo, nossos labs são temporários, itinerantes, precários. Ainda não temos uma infra-estrutura técnica estável, ou coletivos de gestão tech atuantes, sites são perdidos ou dá-se menos valor, como o Estúdio Livre, importantíssimo repositório de tutoriais, ferramentas, trabalhos, desenvolvido cada vez menos colaborativamente, assim como a rede de servidores livres, recém-desfeita. Fizemos uma charla portunhola sobre as dificuldades, uma grande reflexão coletiva. De forma divertida, performática, imagética. Ainda não temos o mínimo para nossas subsistências, diz o artista brasileiro. A observação astuta de uma companheira professora de artes gráficas livres argentina Lila – “Há um retrocesso, achava que eram muitos…” (Submidialogia com logo da petrobrás). No entanto, na apresentação do MSST parecia que lá estava tudo de volta, a poética e a política. Uma apresentação espontânea que arrebatou o coração de muitas pessoas. Encantavam-se com a digitofagia. Plasticamente três terminais abertos, a voz de um homem e uma mulher, um manifesto e um computador sonoro.
Em inúmeras oficinas, mesas redondas, mesas de trabalho, apresentação de projetos, performances, conhecemos hacklabs e ações hacktivistas globais – como as encenadas contra as leis de propriedade intelectual lleras, acta, sinde. http://hacktivistas.net/ Vimos prá variar, o trabalho em comunidades paralelo ao institucional e uma grande empresa se apropriar do encerramento do evento com a Convocatória Vida. Das oficinas que participei – Trabalho em Comunidades, Video Cartografia e Mal de Arquivo destaco no segundo uma super produção em grupo, de equipe de filmagem, sites, produção de imagens e derivas, organizada pelo coletivo colombiano Antena Mutante, http://www.antenamutante.net/ Pablo de Soto de Hacketeria http://hackitectura.net/blog/ e muitos coletivos locais, nas periferias da comuna treze – lugar com um número incrível de mortes relacionadas ao narcotráfico, comuna quatro (moravia), a movimentação estudantil que agitava o centro da cidade de medellin e outros pontos com distintos conflitos sociais. Das que não participei a que mais me impressionou muito foi a apresentação do trabalho de Carmem, mexicana do Open Solar circuits http://opensolarcircuits.cc/ que disse a mim que começou a trabalhar placas e trasnsistores ao ver no trabalho brasileiro mimoSa mulheres de biquíne montando uma máquina (mimoSa pipa). Artes vivas, políticas públicas, noise, bioarte com microscópios, impressoras 3D, protoboards, interfaces, circuitos solares, tranmissões, foram outras práticas comuns.
Paralelo ao encontro aconteceram flisol (fórum internacional do software livre), fractal (encontro de arte e tecnologia no jardim botânico), encontro com Cristóval Jodorowski, e ainda a marcha por la marijuana. Rebeldia e hacks transformam-se em ações. Conheci muitas pessoas falando português, mais do que em qualquer outro país que tenha visitado. Nossa história é a mesma, de favelas, narcotráfico, tambores, mães, coletivos e instituições. O ativismo aqui é calejero, pirata, político e também são muitos, muito bem articulados. A descoberta da colômbia não foi nada além ou tão necessário quanto a nossa própria redescoberta. De redes, labs, estruturas e sobretudo, amor, transmissão de energia através de nossos corpos, nossos abraços, nosso sorriso nossa espontaneidade e a certeza do belo.
No eslabón prendido no último dia de evento, éramos um corpo só. Nem lembrávamos de nossos sonhos de coletividade destroçados, catávamos chatarra para lançá-las ao espaço…
T. treze de abril de dois mil e onze, bogotá, colômbia