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Ciclovida
Categories: Outras conexões

Ciclovida é um documentário narrativo que segue um grupo de campesinos sem terra numa viagem atravessando o continente da América do Sul de bicicleta, na campanha de resgate das sementes naturais. Os viajantes documentam a dominação dos agrocombustíveis no campo e o deslocamento de milhões de pequenos agricultores e comunidades indígenas. Cultivos e matas nativas estão sendo substituídos por desertos verdes de monoculturas transgênicas onde nada mais, planta ou animal, pode sobreviver aos agrotóxicos.

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http://projetociclovida.blogspot.com

A Ciclovida não se define por número, idade, gênero, raça, nacionalidade, credo político ou religioso, cultural; funciona pela vontade e decisão de indivíduos que se reúnem por afinidades, encaminham e realizam atividades autônomas sócio-ecológicas e culturais, de formas itinerantes, preferencialmente a pé ou de bicicleta, por curto, longo ou por indeterminado período de duração.

A atividade pretendida no momento trata-se de uma incursão de bicicleta pelas veias abertas dos biomas do Brasil e além fronteiras, fazendo levantamentos sobre as sementes crioulas ou naturais, realizando uma campanha de resgate e reapropriação (das sementes) por parte das comunidades rurais que foram expropriadas ao longo da tirania capitalista, dos direitos de plantar, colher e plantá-las novamente com reprodução garantida das várias espécies vegetais: legumes, cereais, hortaliças entre outras raridades da nossa flora sob ameaça de extinção e que ainda não tenham sofrido modificação genética artificial que possam ter comprometido sua livre produção e reprodução. Deparando-nos com seus redutos, isto é, com indivíduos e/ou comunidades que ainda possam tê-las sob suas posses, dispor-nos-emos de contactá-l@s com finalidade de partilhas de preocupações e trocas de sementes, resgatando velhos hábitos de conservação e incentivando novas práticas para a preservação das mesmas, afim de que se garanta a continuidade das espécies pelas gerações vindouras. Trocaremos experiências: culturais e artísticas; práticas agroecológicas de cultivo (sem queimadas,sem agrotóxicos e sem fertilizantes químicos); práticas de plantio na curva de nível com cobertura morta, permancultura; realizaremos, incentivaremos e contribuiremos para acontecimentos de reuniões, seminários, debates, atos culturais, cirandas e folguedos infanto-juvenis e outros que venham se constituir em momentos coletivos propícios à partilha de idéias, preocupações e solidariedades, que sirvam de fortalecimento da luta pela recuperação da natureza com restabelecimento das espécies ameaçadas de desaparecimento, atingindo assim o cerne da nossa busca: PRESERVAÇÃO DAS SEMENTES NATURAIS E A NOVA RELAÇÂO COM A TERRA.

Mais que uma simples atividade, a CICLOVIDA é a ativação de um processo de busca de respostas para questões que levantamos em torno da relação homem / terra. Este binômio vem dando motivo de preocupações e debates rumo a soluções para a coexistência num mesmo plano (terrestre), da Civilização Humana e a Natureza Biodiversa. A título de ilustração, citamos um, entre os vários exemplos deste debate, um duelo exibido em 22/01/2006 pela tv globo através do fantástico, entre dois destes acadêmicos burgueses de renomes na mídia internacional. O primeiro deles: o inglês James Loveloc alarma que nas condições em que se encontra o planeta não há como evitar catástrofes, maiores que as tsunamis que sacudiram vários paises da costa asiática, e, o mesmo aponta como medida urgente de salvação do planeta o abandono do automóvel e das queimadas. As soluções apontadas parecem não agradar, desde os que comandam aos que pretendem comandar a alavanca do desenvolvimento desta civilização. O segundo deles: o brasileiro Carlos Nobre admite que as coisas não vão bem mas o Brasil ainda tem muitos recursos em potencial e poderemos ser ainda líderes do desenvolvimento. Debates são necessários e embates inevitáveis, interesses se chocam. Vejamos tratados e convenções de Kioto, Canadá e outros do tipo e seus acordos sobre emissão de gases poluentes na atmosfera, muito insignificantes para um planeta num acelerado processo de esgotamento de seus recursos naturais!! De onde vai sair para cada ser humano (quase seis bilhões) do mais simples o seu “mínimo”, o seu “básico”, ao mais sofisticado, que não tem máximo? Vai-se aos limites do poder de alcance, nesse caso, vamos a plutão se ainda der tempo. Conversa para boi dormir! Para desviar o conteúdo dos debates e as atenções para a gravidade da situação, a mídia dominante atravessa-se com soluções virtuais para problemas reais: “debandada dos humanos para os planetas vizinhos” ótimo tema para filme norte-americano ganhador de “oscars.” Que roubada! Que tal fecharmos os olhos para esse ilusionismo e cuidarmos do nosso planeta e do que ainda nos resta: vegetação, água, ar e clima favorável para a vida? Que tal, preferirmos recuperar o habitat natural do nosso “planeta tudo” a fugir para outro, cujo habitat favorável à vida, se acaso existiu, já fora destruído por seres inteligentíssimos como nós? A Natureza ainda benevolente, nos dá a chance de escolher uma entre duas saídas opostas: 1 – revisão de nosso trajeto de humanos, autocrítica na prática para a reversibilidade: 2- ignorar a situação apressar o fim da vida no planeta.

A atitude que estamos tomando., não nos ocorreu num passe de mágica, nem de lampejo poético mas através de penosas décadas de vivências e observações juntos a tant@s que também interagiram com a realidade social do campo, dentro e fora da Reforma Agrária. A interação com os movimentos sociais, surgidos a partir do enfrentamento da miséria cujas causas são atribuídas aos fenômenos naturais ou efeitos climáticos (caso Nordeste do Brasil), podemos transferir essas causas para os efeitos climáticos das políticas eleitorais e seu casamento com o capitalismo latifundiário.

Com este discurso e prática chegamos realizar pequenas incursões com nossas bicicletas, num entorno de 200 quilômetro do nosso ponto de morada, o Assentamento Mandu Ladino município de Pentecoste. somos em torno de seis a oito pessoas que estarão implementando o Ciclovida na estrada, alem de uma família: pai,mãe e filhos, há também jovens em finais de cursos médios e universitários que sinalizam com a possibilidade de se integrarem à caravana bicicletária do Ciclovida.

Partiríamos dia 26 de dezembro /2005, uma segunda-feira do Assentamento Mandu Ladino – Barra do Leme, localidade de Salgado, município de pentecoste, Ceara – Brasil. Não foi possível na data indicada por duas razões: primeira, é que nossos filhos ficaram para recuperação dos colégios e a segunda foi um problema no tratamento odontológico enfrentado por um dos nossos filhos, o mesmo já passara por várias cirurgias plásticas para recomposição de lábio leporino e goela de lobos. Os médicos que acompanham o caso, descobriram recentemente o surgimento de uma anomalia na arcada dentária que o submeterá a mais uma cirurgia, que está marcada para dia 9 de fevereiro e a previsão de repouso pós-operatório são de aproximadamente 20 a 30 dias. Nossa maior convicção no momento, é que partiremos, a nova data prevista será dia 15 de março de 2006 ou logo após a autorização médica. Viajaremos com qualquer número de ciclista. O mundo é furado, o caminho está aberto, a decisão e a ação de cada um obedecem a força da sua convicção.

Sentimo-nos fortalecidos com as manifestações de apoio de uma infinidade de indivíduos e coletivos em níveis locais, nacionais e internacionais. Todos constroem conosco esta jornada de luta pelo reequilíbrio da vida neste resto de planeta. Todas as galeras, em seus diversos locais: de atuação, moradia, atividades diversas, desde que queiram, podem estar conosco, discutindo a implementação e os desdobramentos desta e de outras atividades pela vida. Queremos manter e nos manter informados através dos meios que dispormos: correios, e-mails, sites, telefones etc. para que possamos construir juntos, a resistência de todos os seres, contra sua transformação em objetos mortos para dar vida ao moribundo sistema de morte, o capitalismo.

Não fazem parte da nossa bagagem, densos fardos de teorias políticas e econômicas prontas para serem aplicadas nas diversas realidades com as quais vamos nos deparar, outrossim, modestas preocupações a serem partilhadas. Portamos também vagões e lacunas para serem preenchidos com ricos acúmulos, resultantes das trocas de vivências que sem duvida irão acontecer em nosso encontro com um mundo de práticas e culturas diversas, cujos acúmulos serão usados como matéria-prima para a recuperação do habitat natural deste planeta para o reflorescimento da vida.

Desejamos a todos a paz que só a natureza recuperada será capaz de nos oferecer!

CICLOVIDA

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